segunda-feira, outubro 30, 2006

Viagens na terra de outros - Varsóvia

Mesmo antes de chegar à Polónia, a imagem que polacos me venderam de Varsóvia foi tão má que só faltou dizer que ainda havia a peste negra. Crédulo, e sem um guia de viagem, cheguei vindo de Vilnius de autocarro e o que vi de Varsóvia foi o trajecto entre uma estação de autocarros decrépita e a estação central de comboios. E como estava com tanta pressa para apanhar o comboio para Cracóvia, consegui a proeza de estar em Varsóvia e nem sequer vislumbrar o Palácio da Cultura e da Ciência (fica AO LADO da estação).

Já este ano, trabalhando na Polónia, as opiniões que ouvi de polacos e estrangeiros em Cracóvia sobre Varsóvia não foram as melhores. Mesmo assim, naturalmente foi uma das primeiras cidades que visitei e devo dizer que gostei.

Como é sabido, a cidade foi praticamente arrasada no final da 2ª Guerra Mundial após o triste desfecho do Levantamento de Varsóvia de 1944. Como se isso não bastasse, foi sobre as directivas soviéticas que a sua reconstrução ocorreu. O resultado são ruas e avenidas bem largas, prédios cinzentos de linhas direitas, e generosos espaços verdes, à mistura com alguns belos palácios barrocos reconstruídos. Bonito, dentro do estilo.

Quem chegar a Varsóvia de comboio, à saida da estação vê logo o melhor da cidade: o Palácio da Cultura e da Ciência ("oferta" da União Soviética), que goste-se ou não da arquitectura, é um edifício imponente em qualquer local do mundo, e cujo contraste com os edificios modernos de 30 andares que o querem cercar, ainda o torna mais interessante. Mas isto é como começar uma refeição pela sobremesa, ou seja, pelo melhor. Tudo o resto irá saber a pouco, mas ainda assim é fundamental visitar o centro histórico (reconstruido) e também os belíssimos parques no centro da cidade. Se esperam ver algo do que era o Gueto de Varsóvia, é bom que tirem isso da ideia, uma vez que esta zona é na verdade uma das mais modernas, com hóteis e escritórios em abundância.

Sendo uma cidade com dois milhões de habitantes, um estilo de vida que me lembra bastante Lisboa, julgo padecer também de um problema de desertificação do centro histórico, pois cerca das 23h num dia de Verão excelente, foi fácil encontrar-me sozinho nas ruas. Desilusão completa é o desprezo a que o rio que banha a cidade está vetado. É pena.

Em suma, não é a primeira cidade que recomendo visitar na Polónia, mas provavelmente será a segunda. Porque é a capital, porque é uma cidade praticamente nova, e para que nos possamos aperceber do dinamismo económico deste país (vísivel nos automóveis, nos edifícios de escritórios, nos hóteis, etc). Varsóvia não me parece muito menos desenvolvida que Lisboa. Talvez mesmo nalguns campos, antes pelo contrário.

domingo, outubro 29, 2006

Lisboa vs Cracóvia by night

Se comparar uma saída à noite em Lisboa com o mesmo em Cracóvia, facilmente chego à objectiva conclusão que prefiro bem mais sair em Cracóvia, e que sair em Lisboa dá uma trabalheira dos diabos.

Lisboa:
20.00: Saída de casa e caminhada de 3 min até ao carro estacionado;
20.03: Carro bloqueado por um marmelo que estacionou em 2ª fila. Buzinadelas até o desrespeitoso proprietário chegar. 1ºs impropérios da noite já foram proferidos;
20.05: Início da viagem até ao sítio onde se irá jantar;
20.15: Estrada em obras e desvio forçado da rota traçada;
20.25: Chegada às proximidades do sítio do jantar e busca por um lugar de estacionamento livre e não pago;
20.35: Resposta a telefonema de amigo pedindo desculpa pelo atraso devido a ainda andar à procura de lugar para estacionar;
20.40: Desistência de procurar espaço grátis, e estacionamento em parque subterrâneo de centro comercial;
20.45: Chegada ao local combinado para jantar, com 15 min de atraso;
23.00: Fim do jantar. Ida para tomar café num sítio perto. O carro continua no parque;
0.30: Após fim do café, regresso ao carro. Custo do parque: € 3.60. Um roubo. Rajada de palavrões;
0.50: Perto do Bairro Alto inicia-se mais uma busca por um lugar de estacionamento livre (e desta vez não quero dar mais dinheiro a chulos);
1: Local a cerca de 10 min a pé mas com uma subida dolorosa pela frente, encontra-se livre. Após fechar a porta deparo-me com um delinquente que me diz algo do género: “oh, não me orientas aí uns trocos”. Impulsos violentos e comentários à la CDS-PP são reprimidos. Lá dou 40 cêntimos. Espero que seja do agrado dele e que não me lixe nada no carro;
1.10: Chegada às ruas estreitas do Bairro Alto, impestadas de freaks, estudantes simpatizantes de esquerda caviar, betos da Linha e de Campo de Ourique, chungaria da Amadora, mariconços, estrangeirada, etc e tal. Locais simultaneamente sossegados, agradáveis, com boa música e sem névoa: Zero, neribi, nicles. O único sítio que realmente consigo gostar de estar é o BedROOM;
3.00: Após estar duas horas em pé nas ruas do bairro, a fumar erva à borla, a levar com duas jolas em cima, e com o simpático número de 467 pessoas que abriram caminho, roçando-se em mim, decido que é hora de ir para casa;
3.10: Chegada ao carro;
3:20: Chegada à minha rua;
3:50: Estacionamento do carro, numa rua a 7min de minha casa, porque não havia uma porcaria de lugar mais perto às 4 da matina para estacionar no meio de Lisboa;

Cracóvia:

20.00: Saída de casa a pé para ir jantar;
20.10: Chegada a restaurante bom, barato e com uma decoração bem conseguida;
22.00: Após escolher sítio para ir tomar café, curta caminhada de 5minutos até sítios bem giros como o Loch Camelot;
22.45 até 1.00: Deambulação por alguns bares (dentro de uma lista de 300) onde é SEMPRE possível arranjar um lugar sentado, no máximo a 15minutos de distância a pé, com final (opcional) em discoteca;
1.10: Chegada a casa.

Não entrando sequer em comparações acerca da qualidade dos locais (fica para próxima oportunidade), se ficar só pela conveniência, Cracóvia dá baile a Lisboa.

Nota: Toda esta comparação não é justa, uma vez que devia comparar Lisboa com a capital Varsóvia. E em Varsóvia, para sair à noite, o carro também é quase indispensável se quisermos aproveitar ao máximo.

segunda-feira, outubro 23, 2006

As escolhas do professor II

Antes de começar a ler algo mais concreto sobre a história da Polónia, achei que era necessário um enquadramento geral deste terra no contexto histórico europeu. Tal como li em relação a Portugal um livro que compactou a nossa história em 700 maçadoras e mal escritas páginas (não vou fazer publicidade negativa em relação ao mesmo), comprei um livro que em 600 páginas abarca a história de TODA a EUROPA desde os tempos da Grécia antiga até aos nossos dias.
O detalhe não é grande nem pequeno (não existe) e salta de assuntos vertiginosamente. Mas para almas ignorantes como a minha, deu para ficar com uma ideia do que se passou para lá de Badajoz nos dois últimos milénios.
O livro chama-se "The Penguim History of Europe", não é uma obra-prima, mas cumpre o objectivo a que propõe: sumarizar momentos importantíssimos da história em uma ou, loucura das loucuras, duas páginas. Não sei se há a versão em português, mas duvido. Livro útil e razoável base de partida para leituras mais a sério.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Começou hoje oficialmente a...

...época das temperaturas negativas na minha terceira cidade (Cracóvia). Máxima de 11 e mínima de -3º C. O que vale é que isto só dura até Abril, e outra das coisas boas é que vou estar sempre a bater recordes de temperaturas mínimas suportadas. Esta será a minha primeira experiência a viver num país onde de facto faz frio como o ca..mandro, mas pela roupa que muitas pessoas já usam nas ruas não sou nem pouco mais ou menos o mais friorento. Brrr!

quinta-feira, outubro 12, 2006

Polska-Portugalia, o rescaldo


Custos: Bilhete: 60pln. Transporte: 40 pln. Menu McNuggets: 11,50 pln. 235km percorridos. 3,45horas desperdiçadas na viagem. E para quê? Para ver Portugal escapar miraculosamente a uma cabazada que a Polónia, se tivesse tido sorte, daria sem problemas. Visto por este prisma, agora poderia discorrer aqui sobre a enorme falta de respeito que os jogadores portugueses demonstraram pelos emigrantes, ou questionar se eles vieram à Polónia para jogar futebol ou para mirar loiraças. Era muito fácil...não vou por aí.
Houve outras coisas bem mais positivas como por exemplo ir ver o jogo com colegas de trabalho polacos, que ao início estavam pouco confiantes no resultado, mas que na minha modesta opinião, devem ter assistido ao vivo ao melhor jogo de futebol da vida deles. E Portugal foi o bombo da festa.
O estádio por seu lado tinha o mesmo nível de conforto austero do Estádio do Jamor, mas com os 40.000 espectadores bem animados e barulhentos, o ambiente foi engraçado. Aliás, aquilo quase parecia o Estádio da Luz. As cores da Polónia são vermelho e branco, têm uma águia como símbolo, a "melodia" de fundo de alguns dos cânticos é igualzinha às portuguesas. Enfim, só faltava mesmo o garrafãozinho de tintol.
Já agora, em relação aos cânticos, o que se ouvia mais era: "Braaaannnco e Veeerrrrmelhoooooooo (pausa) Branco e Vermelho, Branco e Vermelho, Branco e Vermelho" ou "Somos os primeiros" ou também "Nós agradecemos", intercalado com, julgo eu, o hino cantado umas quatro vezes. Tivemos ainda direito a fazer umas Olas, e em que numa das vezes deu quatro voltas ao estádio, já com Portugal a levar duas batatinhas. E eu, para evitar chatices, lá tive de me levantar e fazer de conta que estava muito contente com aquilo.
Para finalizar, confesso que antes do jogo estava algo apreensivo em relação à reacção dos adeptos polacos ao verem um grupo de portugueses (deviamos ser uns 100 espalhados pelo estádio), eu levava a camisola do Figo bem visivel por cima de uma sweat-shirt, e não só não levei nenhuma boca foleira, como todos se mostraram muito amistosos connosco (antes, durante e após o jogo), tendo nós ainda sido alvo de assédio papparaziano. Ainda me lembro quando fui ao estádio de alvalade e só porque levava um blusão vermelho, ouvi palavras menos bonitas em relação à minha masculinidade. Nota para o público polaco, 20 valores (desde que seja com a selecção). Porque em jogos entre clubes, o ambiente pode ser de cortar à faca.
Em suma, um bom jogo da Polónia, a equipa adversária recusou-se a jogar futebol, e um público entusiasmadíssimo. Mas bolas, o futebol é algo mesmo cruel. Perder com a Polónia, minha nossa, algo dolorosamente surpreendente.

segunda-feira, outubro 09, 2006

3ª coisa mais importante na vida a seguir a..

..beber e comer, é como não podia deixar de ser o falar ao telemóvel. Pelo menos era assim que funcionava quando deixei as belas praias lusitanas. As coisas aqui pelo centro da Europa não são tão extremas. Não que qualquer chavalo não deixe de ter o seu telemóvel, mas pelo menos aqui as pessoas são capazes de ir almoçar sem levar o telemóvel (situação parcialmente explicada pelo almoço demorar menos de 20min) e ao escrever sms em vez de abreviarem as palavras ainda as aumentam (por exemplo, sms passa a ser smsa!!). Isto não é viver, é sobreviver.
Tendo à disposição três operadoras de telemóvel (Era, Orange e Plus), resolvi inventar e escolhi a pior. A saber, Plus. Ou pelo menos é a que tem menor quota. Porquê? Porque foi a que vi com telemóvel com preço mais barato. 179 zlotys por um Sony-Ericson que me oferece o mesmo nível de status de um pastor do concelho do Mogadouro, sem contrato de fidelização e cartões recarregáveis de chamadas foi a minha desgraçada escolha, cujo fardo da ostracização carrego agora.
Prova do atraso de Portugal e da ronha da Anacom é a facturação ao segundo desde o primeiro minuto que existe na Polónia, e não em Portugal. Assim, uma chamada do género: "Atão Pawel, onde tás?....No bar da empregada jeitosa ruiva?Ok, vou ai ter. Até já" fica mais barato que um sms. Para carregar as chamadas, compra-se um cartão em quiosques/supermercados, raspa-se um código, escreve-se isso e zás, está carregado.
Mas francamente, como conseguem viver estas gentes sem pelo menos 2 telemóveis. É que nós não conseguimos.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Waiting for the winter

Huguinho, Zézinho e Luisinho com a crew em Cracóvia

domingo, outubro 01, 2006

Momento Eduardo Cintra Torres

Não tendo eu o nível de conhecimento do Edu acerca do mundo audiovisual, não posso apagar o meu passado como espectador televisivo (por exemplo, treze horas seguidas a ver televisão no já longínquo ano de 1989, em que no meio papei Natal dos Hospitais do princípio ao fim). Apesar deste vício da televisão ter sido mitigado, mesmo na Polónia não deixo de ver a televisão, com os 6 canais (um mais de notícias, outro desporto e os restantes generalistas) de acesso público.
Comparando com Portugal, noto que no prime time existe mais oferta de programas de debate político, ao invés de novelas. Tirando isto, a grelha televisa não é muito diferente da portuguesa. Existem até programas iguais (Pegar ou Largar, p.ex). Mas o meu programa favorito é uma chachada de concurso que dá lá para a meia noite, e que consiste em telefonemas de telespectadores para consoante as pistas dadas pelas apresentadoras, adivinharem umas palavras e assim ganhar umas milenas de zlotis. Qual a piada disto? As apresentadoras, claro está, que além de serem bem parecidas, estão em bikini a falar pela televisão com pessoas ao telefone (nada mais natural).
É pena é não conseguir ver filmes aqui. Não porque eles não passem, mas pela forma como são (mal)tratados pela televisão polaca. Legendas, nah. Dobragem de vozes, nah. O que fazem então? Têm um zé-maria-pincel que por acaso até tem uma boa voz, a fazer TODAS, repito, TODAS as vozes num filme com um tom que não ultrapassa o monocórdico. Pior, muitas das vezes ainda é possível ouvir o som original ao mesmo tempo, por baixo da narrativa. Quando me contaram isto, não quis acreditar, mas é verídico. Só visto e ouvisto. Se não fosse um info-excluído, tentava arranjar um som para pôr no blog. Nem quero imaginar como seria isto em Portugal! Provavelmente num filme da Monica Bellucci tinha o Eládio Clímaco a fazer a voz dela numa cena mais tórrida.Tava o filme estragado, ah pois estava.
Os defensores deste sistema argumentam que é algo que os polacos já estão habituados, e que é útil para as pessoas mais velhas verem televisão. Até pode ser que sim, mas devia haver filmes limpos deste vandalismo. O que é que interessa a um idoso polaco ver por exemplo Sex And the City? Aliás, nem devia ver isso, que ainda lhe dá uma taquicárdia.