terça-feira, janeiro 30, 2007

As escolhas do professor V

Após alguns meses, lá achei que era altura de começar a ler livros de escritores polacos que ganharam um prémio nobel. Czesław Miłosz é o nome do senhor nascido em 1911, mas que já não anda por este mundo. E o título do livro em inglês é "The Captive Mind".
As 50 páginas iniciais assustaram-me um pouco pela complexidade da escrita e há que ser frontal, muitos dos conceitos abordados no livro eram-me completamente novos. Mas depois o livro torna-se de leitura mais fácil (são só 250 páginas). Para tornar esta crítica bem curta, o núcleo anda em torno de relatos da vida de quatro escritores polacos, e a forma como, curto e grosso, deitaram a toalha ao chão para os comunistas em relação às suas ideias.
Escrito em 1952, este livro traduz uma visão triste mas realista de quão grandes podem ser os danos de um regime autoritário em relação à liberdade de expressão, e pior, ao próprio pensamento. Já agora, o conceito materialismo dialéctico surge mencionado muitas vezes. Convém pesquisar um pouco sobre o que é isso, caso sejam filosoficamente ignorantes (como eu).

domingo, janeiro 28, 2007

Viagens na terra de outros - Tarnów

Pertinho de Cracóvia, mais ou menos a 80km para Leste, Tarnów foi uma agradável surpresa. Com um centro histórico pequeno, é possivel ver todos os pontos turísticos num só dia. As ruas têm uma disposição medieval, uma praça central inclinada, e tal como em Cracóvia há um conjunto de ruas (como a da foto) que fazem uma circular em torno do centro. Todavia, os prédios mais interessantes são da época do Renascimento.
E depois existe o bairro judeu, que como não foi destruído (destino diferente teve uma sinagoga), e não tem a catrefada de bares/restaurantes/lojas que o de Cracóvia, permite ficar com uma melhor perspectiva de como seriam aquelas ruas à 60 anos atrás.
Como curiosidade, fui visitar o museu etnográfico dedicado à cultura cigana na Polónia (à borla,porque aos domingos não se paga). Aliás, apesar desta cidade não atrair muitos turistas, acho que sem dúvida é a cidade onde estive com maior e melhor informação espalhada pelas ruas do centro histórico (mapa, e explicações em três línguas). Também se percebe que nos últimos anos tem havido um esforço para devolver às fachadas dos edíficos as cores de outrora. E como muitos são de facto edifícios antigos, tem outro encanto.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Carnaval na Polónia

Por aqui na Polónia comecei a ouvir falar de Carnaval logo a seguir ao ano novo. Das primeiras vezes, pensei que de facto eles já estão a pensar em celebrar com dois meses de antecência. Qual Brazil, na Polónia é que deve ser!
Mas lá fui elucidado que para os polacos, o Carnaval é todo o período que vai entre o Natal e 5ª feira de cinzas. E supostamente de acordo com as tradições, esta é uma altura particular de festa. Muito francamente, não noto um grande incremento no número de festarolas, porque pelo menos em Cracóvia, a animação parece ter um nivel constante ao longo do ano: alto.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Ode à neve

Cai neve em Cracóvia,
ela cai na diagonal.
Não conta nenhuma história,
mas da minha vida faz um lamaçal
Ao vê-la pela janela, reflito:
que bom seria ali rebolar,
Mas quando saio, só digo aflito
"Tás parvo ou quê, só te ias molhar!"
Não sei esquiar, não sei patinar,
mas nesta neve toda criança disfruta.
Até na rua velhotas me estão a passar,
E eu caminhando, devagar... numa luta.
Geraldo Geraldes, 2007

terça-feira, janeiro 23, 2007

Palumbu

Lisboa - Cidade das sete colinas.
Coimbra - Cidade dos estudantes.
Paris - Cidade luz.
Chicago - Cidade ventosa.
Cracóvia - Cidade dos pombos.
Por não pertencer ao meio columbófilo não sei se Cracóvia é tipo Meca do Centro da Europa em relação aos pombos. O que sei é que, comparando com Lisboa (onde esta peste já existe em abundância), é incrivel a quantidade de pombos que se vê por aqui. Na praça central, ao pé de restaurantes, dentro da estação de comboios (sim, dentro), nos túneis, e o diabo a sete, tenho de gramar com isto. Pior, parece que há algumas (muitas) pessoas que gostam dos bicharocos, que lhes dão de comer, ficam com eles nos braços. Para essas pessoas só me apetecia dizer: E se após ter dado essa milharada toda, fosse ali limpar as pedras e estátuas que os seus amiguinhos com asas conspurcaram?
Columbofilia sim, agora zés-marias-pincel a dar comida a pombos de rua, que não fazem ponta de corno senão chatear e poluir, chateia-me.
Mas já agora, para não ser demasiado injusto com a cidade, epítetos como cidade de estudantes, cidade dos mil e um bares, ou cidade-mãe da Polónia podiam assentar a Cracóvia.

domingo, janeiro 21, 2007

Antroponímia

Em Portugal, durante os tempos da ditadura, e principalmente entre os anos 40 e 60 tenho a sensação que quase todos os pais portugueses não perderam muito tempo a escolher os nomes para os filhos. Se fosse um bombeirinho, chamou-se António, Manuel ou José. Se fosse rapariga, nem havia volta a dar, teria de ser Maria.
Parece que fenómeno idêntico ocorreu aqui pela Polónia durante o início dos anos 80 (também sob efeito de uma ditadura). Focando-me só no nomes das raparigas, é incrível a quantidade de Katarzynas e Małgorzatas que uma pessoa conhece. E como é tradição por aqui, toda a gente é tratada pelo diminuitivo (será por terem nomes demasiado dificeis de pronunciar?). Por isso, quando se diz que se falou com a Kasia ou com a Gosia, é necessário ser mais específico, porque isto Kasias e Gosias há muitas.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Canções do povo



Esta é a letra de uma canção polaca, chamada Szła dzieweczka. Ora, então vamos lá tentar traduzir isto, e também analisar um pouco.
1º verso: "Uma rapariga foi à floresta, uma floresta verde, uma floresta verde, uma floresta verde. E conheceu um caçador, um jeitoso, um jeitoso, um jeitoso". Ora bem, temos portanto uma rapariga que vai para uma floresta, verde como se percebeu, fazer sabe-se lá o quê. A única coisa que é dita é que encontrou um caçador bonzão.
2º verso: "Onde é a rua, onde é a casa, da rapariga que eu amo. Encontrei a rua, encontrei a casa, encontrei a rapariga que amo". Bom, pelos vistos o caçador não conseguiu sacar o número de telefone da rapariga, e teve de andar às aranhas até saber onde ela morava. Mas lá a encontrou.
3º verso: Neste tive mais dificuldade em traduzir mas aqui vai "Pensei em ti meu querido, estou tão contente, estou tão contente, estou tão contente. Até te dava pão com manteiga, mas já o comi, mas já o comi, mas já o comi". Isto dá que pensar. Então a tipa diz que gosta dele, e coiso e tal, e depois diz que dava algo que já não tem? Caçador sofre.
E esta é uma das canções populares mais popular na Polónia. Tenho esperança que daqui a mais uns meses já consiga cantá-la decentemente no Karaoke.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

EMPIK

Em Portugal, quando se fala em comprar livros/CD's/DVD's, o primeiro sítio em que muitos pensam ir é a uma FNAC.
Na Polónia não há FNAC. Há uma coisa chamada EMPIK. Tal como a FNAC as áreas das lojas são grandes, há um petit café, e as lojas maiores têm vários pisos. E depois há a localização, sempre excelente. Por exemplo na foto, o edíficio branco é todo uma loja EMPIK, situando-se na praça central de Cracóvia.
Existem todavia alguns detalhes a melhorar como sejam a estupidamente quente temperatura no seu interior, ou pior, a miséria franciscana que é a parte de literatura em língua estrangeira. O que vale, é que existem muitas outras lojas (pelo menos em Cracóvia), mais pequenas e que oferecem uma oferta decente de livros em inglês (novos e usados). Ufff

terça-feira, janeiro 16, 2007

Quem não tem coração?

Este é o símbolo de uma organização de caridade polaca, fundada à cerca de 15 anos, e que enfoca o seu apoio nas crianças (por exemplo através da compra de equipamentos para alas pediátricas de hospitais). Todos os anos, existe um evento que decorre por todo o país, e em que concertos/eventos/festas são organizadas, os artistas actuam à borlix, e milhares de jovens e menos jovens andam de latinha ao peito e com autocolantes para distribuir, simbolicamente agradecendo a contribuição das pessoas. E no passado domingo, 99% das pessoas que circulavam na rua, andavam com este símbolo em si.
O nome da organização em português seria Grande Orquestra da Caridade de Natal. E segundo o site deles - http://www.en.wosp.org.pl/fundation/, em 15 anos já conseguiram 65 milhões de dólares. Caso para pensar, que já que fazem este evento por toda a Polónia, porque não fazê-lo por toda a União Europeia? Haveria muitos putos que agradeceriam.

sábado, janeiro 13, 2007

Quiosque


Sempre que passo por um quiosque, dou comigo a pensar como será o dia-a-dia de uma pessoa que trabalha num sítio destes. Passar dias, meses, anos a fio num espaço com um metro quadrado (dois se for um kiosk à rica) deverá moldar e bem a personalidade de uma pessoa. Com quem conversar, quando as pessoas que se dirigem a ela somente querem o cigarro, a revista, ou o carregamento de telemóvel? E o que fazer nos tempos mortos quando já se leram todas as revistas cor de rosa todas? Será que se emerge na literatura clássica? Dá-me que pensar e dá-me pena. Mas também só me dá pena por uns parcos segundos, porque depois lembro-me como passo eu o meu dia de trabalho, a olhar para um monitor 8h por dia, a teclar e a única vista que tenho (quando me deixam abrir as persianas) é o telhado de uma fábrica. Ao menos neste quiosque teria uma senhora vista: a praça central!
Senhora do quiosque 1 - Eu 0.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Triângulo vs Bola



Situação: vontade de ir mudar a água às azeitonas. Cenário: indicação de WC a 50m. Informação: WC bolinha e WC triângulozinho. O que raio é isto, é a reacção nº 1 que todos os estrangeiros terão ao ver isto. A reacção nº 2 será, ok, triângulo para baixo, portanto é a casa de banho das gajas.
Dedução errada. Afinal o triângulo é para os gajos e a bola identifica gajas. Lamento, mas não sei a razão de ser. Felizmente, estes sinais não surgem assim tantas vezes, mas para quem não sabia disto, interprete os sinais usando a lógica "normal", e depois escolha o oposto.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Bica na Polónia - Co to jest?

Depois do relato do choque cultural com a água, era injusto não falar das bicas, cimbalino, expresso, o que se quiser chamar. Para começar, o expresso aqui é caro como o raio. Menos de € 1 é dificil, e a título de comparação, um bolo pequeno normalmente é mais barato.
Assim, é fácil de perceber que o polaco não tem muito o hábito de beber café. Mas quando bebe, e porque para a maior parte deles o café é muito forte, misturam um pouco de leite, ou heresia das heresias, água. Aliás, é normal que ao pedir um expresso, ele venha acompanhado por um pequeno copo (shot size) de água SEM gás.
Portanto, e tomando uma visão etnocentrista, o que percebo é: o cafézinho é muito fortezinho para ser bebido tal como sai da máquina. Mas, quando se trata de beber vodka, não há cá copozinho de água para ajudar. Para um português isto faz sentido? Não, não faz.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Água

Gazowana or Niegazowa, that it is the question.
Para mim, a resposta surge facilmente: SEM gás sff. O problema é que um português assume que quando se pede água, trazem água SEM gás. Aqui, não! Se não se disser que se quer água SEM gás, trazem-nos água COM gás. E por vezes, a garrafa diz SEM gás, mas afinal é COM gás, o que imediatamente me deixa SEM vontade de beber a porcaria da água.
Pior, quando num café se pede uma água SEM gás, 95% das vezes trazem água SEM gás sim senhores, mas têm de inventar: colocam a rodelazinha de limão dentro do copo. Será assim tão dificil compreender que por vezes uma pessoa apenas quer um copo de água, água normal. No gas, no lemon, just god damn water!

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Viagens na terra de outros - Poznań

Traçando uma linha recta entre Varsóvia e Berlim, há uma cidade que é mais ao menos equidistante. Poznań, capital da região da Wielkopolska (Grande Polónia) com cerca de 600.000 habitantes. Fruto da sua localização geográfica assume-se como um importante polo de desenvolvimento, manifestando um forte cariz industrial, e alberga ainda as mais importantes feiras de negócios na Polónia.



Fruto da ocupação alemã, são bem visiveis as diferenças a nível da arquitectura, e até agora foi a cidade polaca onde estive com maior diversidade de estilos. Também esta cidade foi severamente castigada durante a II Guerra Mundial, pelo que por exemplo a praça central é totalmente reconstruída, e se não fosse por uma aberração arquitectónica soviética mesmo no meio, diria que era perfeita.
Apesar de ter mais ou menos a mesma população de Cracóvia, a sua organização é mais convencional, ou seja, o centro da cidade é mais alargado, o que me obrigou a caminhar um pouco mais. Também por aqui há estudantes a pontapés, mas turistas já não são tantos quanto isso (um fim de semana basta para ver os pontos mais óbvios). Pela noite, existem também uma dúzia de lugares interessantes a visitar, todos a menos de 15min a pé da praça central.
Como gosto de ir sempre a centros comerciais (excelente spot para compreender a cultura de uma cidade), um dos que estive - Stary Browar - surgiu da reconversão de parte das instalações de uma cervejeira, e para não ser exagerado, vou só dizer que é belo.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Patinagem no gelo

Com o "Inverno" por aqui, já se vêem as pistas de gelo para a malta patinar um pouco. Eu ainda não experimentei, mas ficava bem contente se me conseguisse equilibrar desta forma passadas algumas horas.



O objectivo final será conseguir fazer uma figura deste género. Exequível para mim? Duvidoso.
E não é que seja impossivel fazer isto, mas em gajo, parece-me um pouco abichanado. Já em gaja é lindo.









Mas voltando à realidade, e sendo pragmático, acho que estou condenado a situações deste género por muito tempo, com a diferença que eu não tenho 7 anos de idade como este casalinho (e é ele que caiu ao chão!).

terça-feira, janeiro 02, 2007

Comboios

Para viajar na Polónia recorro na maior parte das vezes ao comboio, basicamente por exclusão de partes. Evito andar de autocarro porque as técnicas de condução são demasiado arrojadas. Nunca usei voos domésticos porque basicamente sou teso e aviões a hélices não obrigado. Resta pois o comboio, que tem vários pontos positivos, como sejam:
1- é pontual;
2- permite aceder às principais cidades polacas (todavia muitas vezes tendo de mudar em Varsóvia);
3- com jeitinho, até sai barato usando duas opções:
A- Bilhete de fim de semana que por 99 polónios dá para andar em quase todos os comboios pelo país com número de vezes só limitado pelo número de horas de um fim de semana;
B- Super-Bilhete, que comprado com pelo menos uma semana de antecedência permite ter lugar a menos de metade do preço (número limitado de lugares);
Assim, por exemplo, consigo fazer 300km em 3 horas por menos de € 10. Não está mal.
Quanto a pontos negativos, espero pela oportunidade de andar em comboios regionais, e fazer alegres viagens de 100km em 2 horas e meia, para depois puder falar com mais conhecimento de causa. Mas já tenho alguma experiência de comboios regionais em Portugal, com malta da tropa e tudo, portanto sem medos. Mas até agora na Polónia foi sempre de Intercidades ou Internacional.
Curioso é o facto de existirem várias empresas consoante o tipo de comboio (internacional/intercidades, regional, carga). Em Portugal o prejuízo está todo oculto ou não numa única empresa.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

No éter da rádio polaca

Em Portugal sou um ouvinte ávido de rádio, e não é pelo facto de ter mudado de país que alterei esse hábito.Mas azar dos diabos, existe uma triste semelhança entre o panorama radiofónico dos dois paises. Isto porque também aqui a rádio líder tem as letras RFM, mas dispostas de forma diferente: RMF - www.rmf.pl. Pior, aqui esta rádio tem uma audiência de 25%, com uma qualidade de selecção musical ao nível da RFM, e onde sabemos que podemos ouvir Celine Dion, Michael Bolton e outros de menor importância (mas igualmente maus).
Após alguma pesquisa, lá consegui encontrar duas rádios, mais ou menos, ao meu gosto. A rádio Trójka - http://www.polskieradio.pl/trojka/ , que é o que mais se aproxima por aqui ao conceito da portuguesa Antena 3, se bem que ouça mais jazz/blues.
A outra é a rádio de notícias cá do burgo, ao estilo da TSF de há uns 5 anos atrás, chamada TOK FM - http://serwisy.gazeta.pl/tokfm/0,0.html. Escusado será dizer que algumas (e sem referir percentagens) das notícias me passam ao lado por várias razões.
Saltitando pelas frequências, algumas das impressões que ficam é que passam mais música nacional, mais músicas antigas (p. ex. não é dificil ouvir "Final Countdown" - Europe), e menos rádios que em Portugal.
Ps: falha imperdoável a não referência à rádio Pin - http://www.radiopin.pl/, cuja selecção musical inclui bastante jazz, e alguns programas de informação de caracter financeiro/negócios. Obrigado pela ajuda, mas confesso que ainda não ouvi muito esta rádio. E consegui mencioná-la sem dizer que é uma rádio com pinta.